sexta-feira, 3 de maio de 2013

Na sua tese de doutorado, a professora Andreia Mara Pereira, da Unicamp, informa que os chineses usam produtos medicinais de 26 mil árvores. O Brasil não está nem entre os 10 primeiros países consumidores de plantas medicinais, embora nossa Amazônia tenha um quarto das espécies de plantas do mundo.

Lucas Mendes Campos nasceu em Belo Horizonte, é jornalista e apresentador de televisão, fez carreira no Rio de Janeiro, tornou-se correspondente em Nova York onde reside atualmente.
Onde estão os índios e a Amazônia? Na mídia americana, estão nos excelentes documentários da TV por assinatura. O foco está na exuberância do maravilhoso e surpreendente mundo dos animais e das plantas.
Nas décadas de 70, 80 e 90 estavam nas primeiras páginas e nos jornais nacionais. Florestas em chamas ou serradas, garimpeiros assassinados por madeireiros, índios aos gritos de guerra e dor, fauna e flora em liquidação.
Ou cansamos do drama dos índios e das selvas ou os problemas estão bem encaminhados. Notícia boa não é boa notícia para as manchetes. O cientista Mark Plotkin acha que é caso de tigela meio cheia e meio vazia. Metade vai bem, metade vai mal.
Ele tem um bom medidor. Há trinta anos leva mordidas de mosquitos, come e bebe as maravilhas e venenos da selva. Hoje é presidente do Amazon Conservation Team, ACV, criada por ele, que joga na defesa de índios e selvas. Outras ONGs protegem um ou outro. A ACV acredita que um não vive sem o outro, embora ele admita que na Costa Rica os índios se foram e a selva ficou - e vai bem.
Em 1993, Mark Plotkin publicou um livro que teve impactos, positivos e negativos: Tales of a Shaman's Apprentice (Contos de um Aprendiz de Pajeh em português), em que descrevia suas experiências na selvas da Amazônia sobre medicina indígena e os pajés. Plotkin é um etnobotânico, um cientista que estuda nossas relações com as plantas, em um campo além da jardinagem.
Ele estava a serviço da Shaman Phamaceuticals, que tinha apostado milhões de dólares nos segredos curativos da selva. O principal alvo de Plotkin era o diabetes, que tinha matado as duas avós, era e ainda é uma das pragas americanas. Continue lendo...
Na tribo, descreveu a doença e acompanhou o pajé na caminhada que recolheu ervas, cascas de árvores, preparou sucos, cozinhou numa panela e deu a uma jovem índia que parecia um caso terminal de diabetes. De um dia para outro, o nível do açúcar tinha baixado e em pouco tempo ela estava na horta. Esta cura milagrosa mereceu destaque no New York Times.
Bem como o fracasso do remédio, quando foi trazido e testado no laboratório da empresa. E de outro, vindo da casca de uma árvore, contra diarreia. As ações da empresa foram a zero. Bye, bye, pajelança.
Quase 20 anos depois, Mark Plotkin ainda aposta nos índios, nas selvas, nos pajés e no GPS. Sua ONG conseguiu um importante aliado, o Google e seus mapas.
Em vez de mapear as reservas indígenas, Plotkin e Google ensinaram os índios como se faz um mapeamento com o GPS. Quando um garimpeiro ou um madeireiro chega na tribo com um mapa e dizem aos índios onde vão minerar ou cortar árvores, os índios sacam seus próprios mapas. Pá! Fim de papo.
Plotkin está mais ativo entre as tribos do Suriname e da Colômbia, onde ele vê um governo mais atuante na proteção dos índios e das selvas. Mas e a medicina da pajelança? Todas aquelas promessas de ervas, folhas, frutas, raízes e cascas milagrosas?
Continuam suspeitas e deram pouquíssimos frutos. Os produtos das nossas plantas venderam US$ 150 milhões no Brasil em 2008, um número centesimal comparado com as vendas destes tipos de produtos nos Estados Unidos (US$ 250 bilhões).
Na sua tese de doutorado, a professora Andreia Mara Pereira, da Unicamp, informa que os chineses usam produtos medicinais de 26 mil árvores. O Brasil não está nem entre os 10 primeiros países consumidores de plantas medicinais, embora nossa Amazônia tenha um quarto das espécies de plantas do mundo.
O professor José Maria da Silveira, do Instituto de Economia da Unicamp, me mandou uma lista que vai da letra A à H e outros argumentos fora do alfabeto para explicar os fracassos, as dificuldades e as complicações das nossas leis e nossos políticos na biotecnologia. Os tratados e leis internacionais não andam. Ele diz que o Brasil se queixa da biopirataria, mas é um biopirata, "talvez o maior biopirata do mundo".
Há mais de 10 anos, o governo brasileiro criou o CBA, Centro de Biotecnologia da Amazônia. Adriano Andricopulo, professor da USP, diz que o país tem ótima infraestrutura e um número significativo de laboratórios e pesquisadores, "mas o Brasil ainda não desenvolveu um único fármaco (produto farmacêutico) a partir de suas fontes naturais". Entre os absurdos, ele cita a copaíba: "O Brasil tem o maior número de publicações científicas sobre a copaíba e não temos patentes sobre o insumo. Outros países, como os Estados Unidos, já registraram diversas patentes".
E os afrodisíacos amazônicos? Mark Plaktin levou dois para os laboratórios de Harvard: brocharam, concluíram os pesquisadores. Descobriu um terceiro, mas nem levou para o laboratório. Já tinha sido descoberto, por acaso, o Viagra.

0 comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...