domingo, 21 de julho de 2013

Uma vez papa, ele vem prometendo uma nova Igreja. Adotou a simplicidade como estilo, vem renunciando às pompas e aos protocolos. Não faria diferente no Brasil, especialmente numa programação em que os jovens serão o público dominante.

Tereza Cruvinel graduou-se em jornalismo e cursou o Mestrado em Comunicação na Universidade de Brasília (UnB), é Jornalista, analista política, ex-presidente da EBC/TV Brasil
A maior população católica do mundo, que reúne 123 milhões de fiéis, prepara-se para receber amanhã o papa Francisco. Embora a proporção dos que se declaram católicos tenha caído de 92% para 65% nos últimos 30 anos, segundo o IBGE, a marca da Igreja Católica na formação cultural do Brasil é indelével. Vitor Meirelles plasmou-a, como emblema estético maior, em seu grandioso quadro A primeira missa no Brasil. O que Francisco disser no Brasil sinalizará para o mundo os rumos da Igreja em seu pontificado, já marcado por forte inflexão na ação pastoral e política. Ele vem externando a opção preferencial pelos pobres e tomando medidas moralizantes na gestão do Vaticano.
O papa encontra um Brasil agitado por manifestações em que o exercício da cidadania se perde nos desvãos da barbárie e do terror. Isso vem de junho, mas degringolou de vez na noite de quarta-feira no Rio, ampliando a preocupação dos governantes com a segurança dele. Para ter contato direto com o povo, como vem fazendo desde a sagração, Francisco recusou-se a usar carro blindado e a mudar a programação. Pelo contrário, soube-se na sexta-feira que fará um passeio pelo Centro do Rio, no Papamóvel aberto, que não estava programado. O papa, informou o Vaticano, não teme hostilidades contra sua pessoa. O afeto tem marcado mesmo as aparições públicas, mas, na terra do homem cordial, surgiu agora esse estranho desejo de estragar os grandes eventos.
A visita de Francisco traz esperança, dizem autoridades eclesiásticas. Qualquer que seja o complemento nominal para a palavra, há verdade na frase. Jorge Mario Bergoglio vem ao Brasil antes mesmo de visitar sua Argentina, por força da Jornada Mundial da Juventude, marcada antes de sua escolha, que rompeu com o eurocentrismo da Igreja e reforçou a visibilidade de nossa região espoliada, em sua fase de maior soberania e altivez, no campo da política. Foi na América Latina que vicejou, por meio de Leonardo Boff, do Brasil, e de Gustavo Gutiérrez, do Peru, a Teologia da Libertação (afora o alemão Gerhard Muller, que Francisco prestigiou colocando-o na chefia da mais importante congregação do Vaticano). Bergoglio, como cardeal argentino, não foi um pensador nem um ativista dessa tendência. Não se provou um suposto colaboracionismo com a ditadura, como quiseram alguns. Ficou evidente, por testemunhos diversos, que ele adotou uma postura pragmática de distanciamento, evitando mais problemas para a Igreja. Mas, na ação pastoral, tem dito Boff, ele sempre esteve ao lado dos fracos, dos pobres e dos oprimidos. E isso é o que importa.
Uma vez papa, ele vem prometendo uma nova Igreja. Adotou a simplicidade como estilo, vem renunciando às pompas e aos protocolos. Não faria diferente no Brasil, especialmente numa programação em que os jovens serão o público dominante. A Igreja precisa deles para estancar a perda de fiéis para outras crenças. Jovens que talvez não tenham participado de qualquer protesto e buscam, de outra forma, a esperança de mudança. A passagem de Francisco, na conjuntura que vivemos, reforça o sentido de mudança, mas por outros caminhos. A escalada que está nas ruas não tem a ver com o papa, com a solidariedade nem com a democracia.
O nó da saúde
O Programa Mais Médicos, que as corporações da medicina estão contestando por todos os meios, inclusive na Justiça, não será a redenção dos brasileiros na questão da saúde, mas resolverá uma parte do problema. A falta de médicos, sobretudo no interior e nas periferias, é um fato só ignorado por quem vive no fausto. Mas a solução estrutural depende mesmo é de novas fontes de financiamento de um serviço que a Constituição estabeleceu como universal, mas o Estado não consegue oferecer a contento.
Durante alguns anos, a cobrança da CPMF aportou recursos retirados de todos os brasileiros bancarizados. A fonte secou, chegou a hora de encontrar outra. Os 25% do royalties do petróleo virão a longo prazo e não serão suficientes. No Senado, foi criada uma comissão especial para estudar o assunto, que tem como relator o senador Humberto Costa (PT-PE), ex-ministro da Saúde. Na Câmara, há uma comissão similar, que tem como relator o deputado Rogério Carvalho (PT-SE). O governo deve estar fazendo seus estudos também.
A verdade é que, para investir na melhoria dos serviços públicos, o país precisaria de uma reforma tributária que taxasse os mais ricos, especialmente os rentistas e os especuladores. A CPMF caiu porque era injusta, tirava de todos e tolhia o crescimento. Mas, com o sistema político que temos, com esse presidencialismo de coalizão que aprisiona todos os governos, jamais será aprovada. Por isso é que se diz que a reforma política é a mãe das outras.
Forças estranhas
Depois que os protestos no Rio descambaram de vez para o vandalismo e a violência - embora tenha havido barbárie em outros locais -, o governador Sérgio Cabral (PMDB) criou um grupo de estudos para investigar as forças criminosas infiltradas e sugeriu a atuação de grupos organizados internacionais.
Desde o início da degeneração dos protestos, alguns núcleos acadêmicos examinam a hipótese da conexão internacional. Reservadamente, pois, com o clima de louvor aos manifestantes criado pelas mídias e endossado pelos governos, quem falasse nisso seria acusado de propagar teorias conspiratórias. Circula na internet, em listas restritas, por exemplo, um vídeo sobre a organização secreta The Iluminatis. Ligada aos cérebros do capitalismo central, ela atuaria, através de mercenários contratados, para desestabilizar países que, por razões políticas, descontentam a matriz do mundo. Ou que possuam riquezas e reservas de petróleo que precisam estar sob controle. Vamos ver o que descobre Cabral, além do fato de ter se tornado o governador mais impopular do país, e não apenas pelo desfrute de helicópteros do estado em atividades pessoais.

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